Sobre fotografia, rebranding e utopia
Não sou designer e nem tenho a pretensão de aqui tentar escrever um artigo técnico sobre branding. Gostaria de contar um pouquinho da história de um fotógrafo Mineiro, de “Belrizonte” que em 12 anos de carreira teve 4 marcas. Talvez esse pequeno trecho possa inspirar, além tirar dúvidas daqueles que por ventura se identifiquem com o tema. Então vamos lá.
Hoje apresento, com muita satisfação, a minha identidade visual. Na verdade, a sua quarta versão desde 2005. Sim, ao longo de 12 anos senti a necessidade de constantemente renová-la. Criamos 4 propostas totalmente diferentes que marcaram momentos singulares na minha trajetória como fotógrafo.
A minha primeira marca foi a La Foto que surgiu em 2005. O seu conceito era baseado na universalidade da fotografia como linguagem. Ela pode levar mensagens, por diversas partes do planeta, sem a necessidade de dicionários ou tradutores. Em Português A FOTO, em Francês LA PHOTO, em Inglês THE PHOTO e em espanhol LA FOTO. Acabei por optar pela última versão, que achei mais simpática. Sempre gostei de Chaves!
Em 2008, quando na sua segunda versão, já não era La Foto e sim Vinícius Matos. Identidade também produzida pela designer e amiga Karen Nery. Nessa época eu já tinha em mente algum dos meus atributos. Acredito que a marca de um fotógrafo seja responsável por traduzir e comunicar o seu DNA (singularidade) e tudo aquilo em que ele acredita. Naquele ano eu decidi me lançar em carreira solo na fotografia de casamento que até então era compartilhada com o meu ex-sócio. Sempre acreditei que um fotógrafo comercial é o próprio produto. A La Foto era uma marca forte mas o Vinícius Matos havia conquistado seu próprio espaço. Confesso que essa segunda identidade visual não tem a mesma força que as duas mais recentes que logo logo mostrarei. Ela era relativamente neutra, mas cumpriu o seu papel por traduzir o estágio em que eu me encontrava na fotografia. Acredito que apesar da neutralidade estética, ela já representava uma das minhas principais características, a objetividade que me acompanha desde o berço.
Em 2013, senti nova necessidade de comunicar ao mercado atributos já mais claros e desenvolvidos. Aquela marca já não me representava. Minha fotografia havia mudado assim como a minha relação com os fotografados e claro, o meu negócio. Nascia então a terceira identidade Vinícius Matos que foi concebida e regida sob a batuta da Vanuza Amarante, uma das poucas designers no país 100% especializada em branding para fotógrafos. Nessa época eu já tinha ocupado meu espaço no cenário mundial da fotografia de casamento. Discutimos temos como quem era o meu público, onde estava, o que buscava, seus hábitos de vida e consumo, desejos e novamente o que me diferenciava como fotógrafo e pessoa. Dessa vez lembro ter pedido a Vanuza uma identidade com uma pitada de elegância, além de um Q de sofisticação clássica. Nasceu então a versão abaixo que até na semana passada foi utilizada nos últimos 4 anos.
Hoje, com muito orgulho, apresento o mais recente capítulo dessa história. Sai do forno a nossa quarta identidade visual, fruto de um diálogo mais profundo entre o fotógrafo (eu) e as minhas obras. Nesse processo tivemos alguns encontros, desencontros e reencontros. Precisei me conhecer melhor para em seguida dar alguns passos importantes e me reaproximar da minha essência. Senti a urgente necessidade de voltar as origens e fotografar mais para mim. Achei fundamental identificar, no meio das milhares de imagens que produzi, as que tinham mais a ver comigo, que me enchiam de orgulho e que me faziam bem. Essa nova marca, em formato de uma quase assinatura, traduz com brilhantismo (graças a Vanuza) minha atual fase de vida. Um “pitstop” ungido de introspecção e resgate de origens e valores. Voltei ao box com demandas de simplicidade, empatia e conexão. É cada vez mais clara a importância do valor atribuído as pessoas que fotografo e que fazem parte da minha vida. Meus prêmios, a partir de agora, são colecionados em outro formato: memórias, sorrisos, carinho e gratidão. Acelero por trilhas ainda desconhecidas. O desejo de desenvolver novos projetos fotográficos, pessoais e comerciais, me instigam com novo ânimo para sonhos ainda maiores, mais profundos e desafiadores.
Nunca imaginei que esse rebranding (termo utilizado pelos profissionais da área) representaria um marco tão importante. Experimentei um árduo processo de negociação e conflitos internos. O que eu produzia já não era suficiente, mesmo grato por tudo aquilo que construí. A reinvenção é fruto da quebra de crenças enraizadas. Na prática, meus amigos, essa nova identidade simboliza o encontro da minha fotografia com os meus propósitos de vida que em algumas vezes não foram priorizados.
Toda transformação envolve medo, de falhar e de não ser valorizado. Só eu posso dizer o quanto tomar essas decisões tem sido libertador e difícil ao mesmo tempo. O apego ao conforto e as conquistas do passado tem sido meus maiores inimigos.
E o que vem por aí?
Melhor não tentar prever o imprevisível. O excesso de expectativas pode ser limitante. Só sei que tenho muitas ideias e que certamente navegarei por águas turbulentas entre críticas e apoios. Mesmo assim, decidi, seguir em frente. Quero poder gozar de mais liberdade e menos limites. Sinto a necessidade de novas descobertas. Quero quebrar regras e estar mais livre. Liberdade? Existe? Talvez não para a nossa mente, pois é ela quem determina nossos limites. Talvez a tal liberdade seja utópica. Se assim for, para que então serve a Utopia?
Como dizia o músico Fernando Birri:
“Ela serve para seguirmos caminhando. A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos.”
E assim, sigo vivo nos meus responsáveis devaneios e ganho a oportunidade de caminhar rumo a um horizonte que me amedronta e seduz.
Desejo a todos muita fotografia, rebranding e utopia!