Que diferença você faz?
from Blog do Vernaglia by Armando Vernaglia Junior
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Outro dia em uma aula, um grande amigo e professor comentou sobre três tipos básicos de ser humano, a saber, aqueles que não sabem o que acontece, os que observam os acontecimentos, e os que fazem acontecer. Inspirado pela preleção dele resolvi escrever este texto.
É fácil ver que a maioria de nós quer estar no grupo das pessoas que fazem acontecer, observamos diariamente relatos e histórias sobre grandes líderes que levaram à nossa evolução, fossem eles estadistas, cientistas, ícones das artes, enfim, temos uma infinita lista de nomes inspiradores que fizeram o mundo ser como conhecemos. Nas artes visuais, como pintura, fotografia e cinema temos uma lista prodigiosa que inclui Dali, Michelangelo, Mondrian, Pollock, DaVinci, Cartier-Bresson, Doisneau, Halsman, Kubrick, Copolla e tantos outros.
Queremos ser como eles para colocar nosso nome na história baseado naquilo que fazemos, queremos influenciar gerações vindouras, ultrapassar a morte e alcançar a eternidade. No final das contas o que nos move nessa busca é isso mesmo, a tentativa de eternizar aquilo que acreditamos. Não é apenas isso, queremos aproveitar em vida os louros dessa conquista, reconhecimento perante nosso grupo e perante nós mesmos também.
Mas por inúmeros fatores, algo parece nos impedir de atingir essa meta e acabamos por ficar atolados no grupo das pessoas que ou não sabem o que acontece ou apenas observam os fatos, por vezes reclamando do mundo e das pessoas, por vezes ficando surpresos com as circunstâncias que nos pegam de surpresa. O emprego perdido, a oportunidade desperdiçada, o concorrente obtendo o sucesso que julgamos como nosso por direito e assim vai indo.
O que afinal acontece? Por que atolamos nesse pântano desagradável no qual muitos estão, mas aparentemente ninguém deseja ou até ninguém merece estar?
Tenho a opinião de que um dos fatores mais importantes é a chamada zona de conforto. É algo difícil de explicar, mas que pode ser exemplificado se tentarmos nos ver como uma entidade dupla, de um lado existe o nosso corpo, de outro a nossa consciência, no primeiro reside a preguiça, a lei do menor esforço, a tentativa de ganhar sem empreender, e também a fome, o sono, o cansaço etc. Na outra instância residem nossas vontades, crenças, valores e ideais.
Por algo que deixo aos cientistas e médicos buscarem uma explicação, nesse embate entre corpo e consciência, o primeiro parece vencer com mais facilidade, e nos deixamos levar por seus desígnios em detrimento de nossos valores.
Até certo ponto é fácil de compreender, se temos que comer para viver, a escolha entre passar fome mantendo nossos ideais intactos ou violentar nossos valores para alimentar o estômago parece algo a sequer ser pensado, aceitamos a situação como está se conseguimos comer, e colocamos nosso sonho de imortalidade em algum lugar do futuro, algo que a consciência tem certeza de que não será atingido, mas os desígnios do corpo saciado nos mantêm sob a ilusão de que um dia chegaremos lá, mesmo que na verdade estejamos atolados e imóveis.
A zona de conforto tem ainda outros fatores, um deles parece uma balança onde de um lado está o esforço necessário para a mudança e de outro o peso dos inconvenientes da situação atual. Muitas vezes consideramos o esforço da mudança como um peso tão maior que o inconveniente atual, que deixamos tudo como está.
Lutar contra a zona de conforto é difícil, pois inclui compreendermos o fato de que mesmo quando o esforço para mudança é de fato maior que o inconveniente atual, devemos dar voz à consciência que lá no fundo, nos fala com voz baixa lembrando dos nossos sonhos, dos nossos ideais, dos ídolos que não se conformaram com a situação e lutaram, foram criativos e se desviaram das situações complexas, que estudaram e buscaram ajuda quando notaram que sozinhos não chegariam lá.
Citei os perfis de pessoas no começo deste artigo, todos queremos fazer a diferença mas poucos de nós de fato estão fazendo, e você? Se conformará com os inconvenientes da vida? Continuará conformado em não ter o carro que gostaria mas apenas o que pode? Continuará achando desculpas ou culpas para tudo aquilo que não tem conseguido?
Ou olhará para o lado da balança onde você imagina estar um esforço enorme para a mudança e levantará o peso? A história de muitas pessoas importantes nos faz perceber que o aparente peso da mudança é na verdade uma impressão, uma das enganações causadas pelo conforto da estagnação, pela preguiça do corpo, a inércia.
Quais foram os pesos que Michelangelo teve que erguer para pintar a Capela Sistina? Por um lado o esforço físico de ficar meses sobre um andaime com tinta caindo sobre sua face, por outro a pressão da igreja que queria a obra acabada e ainda dentro de um estilo não desejado pelo artista. Ele poderia ter optado pelo caminho mais curto e atender aos pedidos de seu contratante, a igreja, mas isso determinava um peso muito maior, o de violentar seus princípios. Na escolha do lado da balança ele se manteve decidido em seus ideais e sonhos, suportou a carga do trabalho e das pressões e produziu uma das maiores obras que a humanidade conhece.
O que deu a ele força para trilhar o caminho mais longo? Nossos dois principais apoios, os sonhos e os princípios.
Assim termino este texto com os dois passos realmente fundamentais para fazermos a diferença:
1 – abandone a zona de conforto, ela é sua maior inimiga e nunca pense o contrário disso, se for necessário peça ajuda pois esta será uma tarefa difícil.
2 – acredite nos seus sonhos e valores, eles o manterão andando quando aparentemente você não tiver mais nada.
Grande abraço a todos vocês que me ajudam a fazer alguma diferença.
Armando Vernaglia Junior