Fotografia de casamento e de família – Belo Horizonte

O Casamento Ideal

Qualquer semelhança com a sua história é mera coincidência.

Toca o telefone cedo. Uma noiva marca então uma reunião para falar do seu casamento e conhecer o meu trabalho. Ela não adiantara nada a não ser a data, a qual eu ainda tinha livre.

Chega o dia do encontro. Fernanda é uma noiva linda, esguia, esbelta, elegante, super simpática. Seu casamento aconteceria em setembro, numa praia do México em um lindo resort a beira mar na Riviera Maia. Apenas 100 convidados, durante o dia, com direito a cerimônia na areia, show com uma banda folclórica, seguido por um excelente DJ. Todo o casamento seguiria as tradições locais já que Jaime, seu noivo, fazia questão de mostrar a todos os seus convidados, que viriam de todas as partes do mundo, os encantos de sua terra natal. As fotos de Jaime, mostradas por ela, me revelaram um homem de traços fortes, também muito simpático e bem apessoado. Formavam um casal lindo. Sentia cheiro de um casamento perfeito. Me peguei esfregando as mãos.

Contrato fechado, ela gostara muito do meu trabalho. Nem titubeara. Fechou na hora! Eu embarcaria em 2 meses para o México com mais duas pessoas da minha equipe. A cabeça começara a ferver de idéias e a ansiedade, inevitavelmente, tomara conta de mim. Eu seguia fortalecendo as expectativas de que este casamento seria o mais bacana da minha carreira. O casamento perfeito!

Me peguei algumas vezes nas semanas que precediam o evento pensando no que deveria fazer. As associações tornavam-se cada vez mais reais: México combina com praia, que me lembra mar caribenho, água azul e transparente, muito sol, areia branca, alegria, tequila, sombreiros, e convidados animados dançando até o raiar do dia. A imagem mental do que seria o casamento já fora criada. Estava a todo vapor com minhas expectativas.

Chega o dia do evento, noiva super ansiosa e de poucas palavras. A primeira decepção, eu havia imaginado o making of acontecendo em uma linda suíte branca a beira mar. Negativo. A suíte era grande mas muito escura. A luz difusa rebatida nas paredes brancas já não seria possível. Na verdade ninguém havia me prometido esta luz, mas eu mesmo a idealizei.

A segunda frustração aconteceu ao chegar no local da cerimônia. Era a beira mar sim, só que devido as chuvas que caíram na semana, o mar não estava tão calmo e a água, bem turva. A areia não era branca e esta praia, especificamente possuia areia grossa e muitas pedras. O imagem formada em minha retina de mar de água translúcida contradizia o que eu enxergava ali. Me senti triste e desanimado. Guardei meu filtro polarizador já que ele não faria tanta diferença.

Durante a cerimônia começa a garoar. Estou em pleno México, sinônimo de país tropical, sol, praia e calor. Caribe não combina com chuva ! Há algo errado, não? Todos os convidados se protegem nos seus abrigos, sombrinhas e cachecóis. A chuva aperta. Droga, tinha que chover no dia do casamento, justo no melhor casamento da minha carreira?

Fim de cerimônia, discursos, jantar, festa. A banda típica mexicana toca durante apenas 40 minutos. Na verdade não vi nada demais. Achei que seriam os Mariachis mas na verdade era um outro tipo de show folclórico maia, nada de sombreiros nem trumpetes, na verdade eu achei muito sem graça.

O DJ entra começa a tocar, apenas uma dúzia de convidados na pista. Cadê aquela animação mexicana? Onde está o tequileiro? E as pessoas dançando até o chão? Sinceramente, este casamento foi um fracasso, na minha opinião.

PAUSA….PAUSA……PAUSA…..PAUSA….PAUSA…..PAUSA….PAUSA…..PAUSA…..PAUSA

Vamos voltar a filme….

Início do making of, a família estava muito emocionada. As melhores amigas da noiva viajaram direto do Brasil para o México. Gente feliz, abraços, beijos e surpresas. Um making of cheio de energia no qual eu poderia ter registrado muitos momentos fortes caso eu não estivesse preocupado com a suíte a beira mar de paredes brancas e luz suave. A luz dura do meu flash inclusive casaria perfeitamente com a dramaticidade dos momentos fortes ali presenciados.

Cerimônia linda. O pai da noiva falecera há 2 anos e ela emocionada, com uma sombrinha super elegante, foi conduzida ao altar, aos prantos, pelo irmão mais velho. Todos ao redor se emocionaram e as lágrimas se confundiam com as gotas de chuva. No entanto neste momento, eu chateado, me questionava o porquê da chuva logo naquela hora. Pouco fotografei na sua entrada. Fiz apenas o básico e tentei inclusive tirar as sombrinhas da cena. Eu inconscientemente ainda estava apegado ao dia ensolarado. Eu tentava ali esconder o a realidada. A chuva fez parte daquele dia, faz parte da história e a estética dos guarda chuvas, olhando de uma outra perspectiva me proporcionaria belas imagens pelos seus formatos circulares que formavam padrões muito interessantes.

Já durante a recepção o show maia fazia parte da da história do noivo, dos seus antepassados, da sua cultura. Inclusive alguns dos componentes do grupo eram seus familiares. Ele se emocionou muito enquanto eu torcia para que o show acabasse. Afinal havia ainda uma esperança para mim e eu estava louco para ver a pista bombando.

E a pista não bombou como eu imaginei. 12 pessoas apenas dançavam enquanto o restante dos convidados aproveitava a festa de sua maneira. Reencontros, sorrisos, uma mesa só com os mais velhos que tentavam se comunicar com gestos já que o idioma não era o mesmo. Os noivos passaram toda a festa juntos, de tempos em tempos e eram saludados com muito carinho pelos amigos, pelas pessoas próximas. Em um casamento de 100 pessoas a probablidade de vermos tais cenas é muito maior. O carinho entre eles era nítido mas eu, o “idealista” torcia para que as pessoas lotassem as pista. Eu queria que elas se divertissem da minha maneira. O casamento afinal era meu ou da Fernanda e do Jaime?

Bom, esta história, exatamente como foi narrada é fictícia. No entanto ela é o retrato do que muitos de nós fotógrafos de casamentos, planejamos e executamos aos sábados. Ao fecharmos um casamento nós criamos expectativas. Ninguém está livre disso. É inerente ao ser humano!

Expectativa é a condição de quem espera pela ocorrência de alguma coisa; perspectiva: Estado de quem espera algum acontecimento, baseando-se em probabilidades ou na possível efetivação do mesmo. Os sinônimos de expectativa são esperança, possibilidade e probabilidade.

O futuro a Deus pertence. Impossível prever o que acontecerá e como vai ser um casamento. Esta é a única certeza que temos.

Algumas vezes essas expectativas batem com o que acontece na festa, saímos felizes e dizemos pra todo mundo que o casamento foi ótimo. Outras vezes as expectativas são excedidas. Tudo que idealizamos acontece e mais um pouco. Saímos gritando bem alto que o casamento foi simplesmente espetacular, sensacional.

O problema, é quando o que acontece no casamento não encaixa com o que sonhamos, com o que idealizamos, com as possibilidades imaginárias criadas pelas nossas expectativas.

Eu já sofri desse mal. Nem uma, nem duas e nem três vezes. Até o dia que eu aprendi a deixar as minhas expectativas o mais baixo possível. Tentar não criar um casamento ideal, perfeito.

Quase todas as vezes (sem exceção) que criei expectativas altíssimas de um casamento, eu me frustrei. Hoje aprendi a entrar em um casamento dizendo, darei o melhor de mim e não espero nada dos outros. O sucesso vem de dentro para fora. Sou eu quem devo estar bem no dia e com a bagagem vazia de expectavivas as cheia de vontade.

Esta foi uma das lições mais importantes sobre fotografia de casamento e eu compartilho aqui com vocês.

Não existe casamento perfeito mas sim expectativas de um casamento perfeito!

Ilustro este post com uma imagem de um casamento que fiz em um Maison na França, há 2 anos atrás. O casamento tinha tudo para dar certo e logo no meio da festa começou a chover.

Voltando a fita novamente. Tinha tudo para dar certo não, DEU TUDO CERTO. E a chuva? Ah, a chuva….. ela foi vista como parte da história, ninguém deixou de amar ninguém e no final ainda me rendeu reconhecimento extra.

Neste casamento consegui deixar as expectativas no Brasil. Eu fui de coração aberto para mais um trabalho. E que assim sempre seja.

Se você gostou, compartilhe por favor.

Sucesso e um forte abraço a todos.

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