Feliz é aquele que descobriu que pode traduzir sentimentos em imagens.
Feliz é quem tenta não reproduzir somente o que estava dentro de si. Contraria a Fotografia cega. Aliás, o Ego é cego.
Feliz do fotógrafo que consegue quebrar regras e não se prende a fórmulas. As mesmas regras que são tão necessárias para o nosso convívio em sociedade.
Feliz é o que no ato de observar consegue se confundir com o observado.
Feliz é quem consegue transformar pressentimento em realização. E ocorre que as vezes isso pode ser feito através de imagens.
A fotografia é apenas uma ferramenta.
O Verdadeiro Fotógrafo
“O verdadeiro fotógrafo, como de resto qualquer artista, deve escolher o caminho com o coração e nele viajar incansalvemente, contemplando como pessoa inteira tudo o que é vivo.
Absolutamente íntegro, sem propósito alcançar, sem submissão a regras e fórmulas, sem necessidade de parecer brilhante ou original, só assim autêntico e livre pode captar o espírito criador em movimento. Aquele que mergulha na viagem do ver tem que estar com as portas da percepção sempre abertas, sabe que diante do eterno precisa esquecer de si próprio.
A criação é o que importa, caminho de conhecimento, poderosa arma de encontrar o mundo. O ato criativo é contínuo e sem fim, a prática sempre renovada de contemplar humaniza a visão, anula verdades, permite a inventividade, realça o eu interior. A recompensa é a experimentação mística do encontro com a beleza. O fotógrafo sente neste momento fulgaz algo parecido com o satóriz zem budista, um momento de revelação, um indefinido e maravilhosso prazer. Nessa respeitosa relação consigo mesmo, o fotógrafo cria algo de original com espontaneidade e fluência, o observador se confunde com a coisa observada, o vazio se instaura, o que estava contido volta a pulsar, o que antes era pressentimento agora é realização. A pureza do seu diálogo, por mais fotos que faça, por mais poeira que tire dos olhos, continuará andando solitário com sua camera, mas ele também sabe que esta aprendendo outra arte bem maior, a arte de não ser coisa alguma, de não ser mais que o nada, de dissolver a si próprio no vazio entre o céu e a terra.”
Fernando Pessoa