Cenas dos próximos capítulos…
Há mais de dois anos eu tenho buscado dar mais SENTIDO as minhas imagens. Na verdade as imagens são apenas uma desculpa. Busco sentido mesmo é na minha vida. E isso acaba refletindo na minha fotografia, tanto na autoral quanto na comercial.
Este mês é para mim um divisor de águas. Em breve publicarei os meus novos trabalhos fotográficos. Um novo conceito que na verdade veio de dentro para fora. Ele reflete o meu atual momento de vida de resgate de valores, simplicidade e de maior intensidade nas relações com as pessoas. Viver o simples. Ser feliz com as mínimas coisas.
Esta imagem é uma pequena amostra do que vem por aí.
A Mônica e o Francesco, se abraçam depois de uma briguinha de casal. Eles sabem que não vale a pena ficarem brigados por tão pouco. E eu estava lá para testemunhar este verdadeiro apertão. Eles são casados e a sessão de quimioterapia (a Mônica já está curada) é na verdade faz uma espécie de manutenção para que o câncer não retorne. Uma espécie de QUIMIOTERAPIA + VACINA.
Mas o que me impressionou mesmo foi a vontade com a qual eles vivem a vida HOJE. Viver o presente se tornou possível já que a doença fez com que a improbabilidade do amanhã trouxesse sentido para o HOJE.
Ainda mais quando se tem filhos. Eles tem dois filhos sendo um deles a pequena Juju, com 5 anos. Em breve publicarei algumas imagens deles. Aguarde.
Vida longa a Mônica e ao Francesco. O meu agradecimento por abrirem suas vidas ou uma pequena janela dela. É riquíssimo poder aprender com vocês neste momento pós traumático onde eu em algumas horas tive que me retirar para esconder as lágrimas. Lágrimas de remorso, diga-se de passagem. Sentimento de tempo perdido. Como é ruim sentir isso. Dilacera a alma e dá vontade de voltar o tempo para ter vivido mais o presente com todos os que me cercam. Agora é tarde, no momento o que me resta é ser muito grato por essa lição.
Ela se torna mais rica ainda pelo fato de poder compartilhá-la aqui.
Que venha mais fotografia, que venha mais sentido e profundidade na vida. A fotografia é um mero reflexo do que sente o fotógrafo. Ela pode ser uma bela desculpa para que possamos viver melhor, por que não.
Que eu possa viver como eles o PRESENTE, pois ele é a única certeza que todos nós temos, doentes ou sãos.
O tempo passa rápido… E como passa rápido o tempo…
A alegria mora no agora – Rubem Alves
Pouco antes de morrer, Roland Barthes pronunciou a sua conferência inaugural como professor do College de France. Sabia que estava ficando velho, mas saudava a velhice como tempo de recomeço, o início de uma “vita nuova”. E ao terminar sua fala fez uma confissão pessoal espantosa. Disse que havia chegado o momento de entregar-se ao esquecimento de tudo o que aprendera. Tempo de desaprender.
As cobras, para continuarem a viver, têm de abandonar a casca velha. Também ele tinha de abandonar os saberes com que a tradição envolvera. Somente assim a vida poderia brotar de novo, fresca, do seu corpo, como a água brota das profundezas onde estivera enterrada. E disse então que este era o sentido de ficar sábio: Nada de poder; um pouquinho de saber; e o máximo possível de sabor…
Ele dizia que era isto que pretendia ser, daquele momento para frente: um mestre do prazer, aquele que se dedica a ensinar a seus jovens alunos o gosto bom das coisas!
Quem toma uma decisão como esta está afirmando que o prazer é a única coisa que vale a pena. Vivemos para o prazer. O que é espantoso é que tal revelação lhe tenha sido feita quando ele já deixara para trás os anos da juventude.
Talvez que a sabedoria seja coisa crepuscular. Há pessoas que só conseguem ver direito depois que a velhice chega. É preciso muito pouco. A alegria está muito próxima. Mora no momento. Nós a perdemos porque pensamos que ela virá no futuro, depois de algum evento portentoso que mudará a nossa vida.
E a gente fica esperando que ela haverá de chegar depois da formatura, do casamento, do nascimento, da viagem, da promoção, da loteria, da eleição, da casa nova, da separação, da morte do marido, da morte da mulher, da aposentadoria… E ela não chega porque a alegria não mora no futuro, mas só no agora. Ela está lá, modesta e fiel, no espaço da casa, no espaço da rua. Se não a encontramos, não é culpa dela é culpa nossa. Nossos pensamentos andam muito longe dos lugares onde ela mora e, por isso, nossos olhos não a podem ver.
Velhice é quando se percebe que não existe no futuro nenhum evento portentoso por que esperar, como início da felicidade.
Por isso, talvez, os jovens devessem aprender com os velhos que é preciso viver cada dia como se fosse o último.
A alegria mora muito perto. Basta esticar a mão para colhê-la, sem nenhum esforço.
Mas, para isso, seria necessário que os nossos olhos fossem iluminados pela luz do crepúsculo.